
O Caminho de Dom Bosco: sonho que resiste ao tempo
Atualizado: 23 de set. de 2020
Roteiro turístico idealizado pelo professor Osvaldo Della Giustina ainda aguarda parcerias.

Nascido em Orleans (SC), Della Giustina é um apaixonado pelo Brasil Central, suas belezas, sua gente, seu misticismo (Divulgação)
Conhecido por suas visões, certa vez Dom Bosco (Giovanni Melchior Bosco, 1815-1888) viu, entre os paralelos 15 e 20 do hemisfério Sul, um lugar de muita riqueza, próximo a um lago. Esse lugar foi atribuído por alguns intérpretes como sendo a localização onde foi erguida Brasília.
O sonho/visão de Dom Bosco também serviu de inspiração para o filósofo, jornalista, escritor, pesquisador, gestor público e professor Osvaldo Della Giustina, que a partir de parcerias com o Ministério do Turismo e os governos do Distrito Federal e dos estados de Goiás e Tocantins, e ainda a colaboração de consultores, entre eles o diretor da Tekoá, Marcos Luz, elaborou o projeto "O Caminho de Dom Bosco - Um Roteiro Para o Centro do Mundo".

Lançado há 15 anos, este roteiro místico-religioso percorre 78 atrativos entre Brasília (foto) e Caseara (TO), no Parque Estadual do Cantão. O projeto não chegou a ser desenvolvido em sua totalidade, mas é compreendido pela Tekóá Brasil como um importante elo de desenvolvimento econômico e social da região central do Brasil, por meio do turismo sustentável.
Confira, a seguir, entrevista com o professor!
Tekoá - O que motivou a construção do Roteiro Místico para o Centro do Mundo?
Della Giustina - O Roteiro Místico surgiu naturalmente, pela percepção do óbvio. Inicialmente, viajando para o Tocantins como consultor na elaboração do Primeiro Plano Estratégico de Desenvolvimento e depois, para implantar e responder pela Reitoria da Fundação Universidade do Tocantins, a riqueza mística do caminho percorrido e do lugar da chegada se impôs aos olhos, à emoção e à lógica.
Creio que, infelizmente, como tantas outras coisas de nosso riquíssimo País e de sua gente, essa riqueza não tem sido percebida e, mesmo quando percebida, em geral não tem sido devidamente aproveitada.
Tekoá - Qual a base do projeto?
Della Giustina - O misticismo evidenciado em três dimensões: a dimensão da natureza em sua multiplicidade de biomas, de paisagens, de águas e a imensidão das planuras e dos tabuleiros. A dimensão da cultura na variedade de seus povos, de suas origens, de seus costumes, de suas arquiteturas e seus relacionamentos. A dimensão espiritual, na variedade de suas crenças, de seus rituais, da religiosidade de seu povo.
Tekoá - Como se deu a construção do Roteiro?
Della Giustina - Toda a percepção, a concepção e o roteiro inicial foi individual.
Tekoá - Quanto tempo levou para transformar o sonho de Dom Bosco em um projeto em plena condição de implantação?
Della Giustina - Eu diria que tempo nenhum. Bastou abrir os olhos, perceber, e a potencialidade se evidenciou. A questão básica está na demora em transformar a percepção em fato, em realização.
O escrever o roteiro, o parar o carro em cada curva da estrada para uma foto, o parar para conversar com as pessoas, ou simplesmente para contemplar as paisagens em sua variedade, o anotar, catalogar e escrever, relacionando tudo com o sonho de Dom Bosco, diria que foi fácil, quase instantâneo.
Um pouco mais difícil, ou mais demorado, foi - está sendo - abrir os olhos para as pessoas, as empresas, sobretudo as empresas de turismo, mas também as universidades, os poderes públicos, os investidores, que tudo está aí, está pronto e é só ver, assumir e fazer.
Tekoá - Como surgiu a parceria com o Ministério do Turismo e governos estaduais?
Della Giustina - O contato com o Ministério do Turismo aconteceu casualmente, através do próprio então Ministro. O professor Walfrido dos Mares Guia percebeu de imediato a potencialidade do projeto, observou que “todos os países tem seus roteiros místicos” e citou o Santiago de Compostela, o Roteiro do Tibete, do Himalaia, de Machu-Picchu, e tantos outros que não tem de forma alguma a variedade e a riqueza deste roteiro. “Porque o Brasil, com todas as suas potencialidades, não tem o seu”, se perguntou.

Graças a um convênio com o Ministério do Turismo o Roteiro Místico para o Centro do Mundo inicial foi desenvolvido num longo trabalho de pesquisa, em articulação com as áreas de turismo dos governos do Distrito Federal, Goiás e Tocantins (foto). Algumas empresas se mostraram interessadas, inclusive duas ou três Escolas de Samba do Rio de Janeiro se candidataram para transformá-lo num desfile de Carnaval.
Mas, como de costume, mudaram-se os governos, esqueceram-se os objetivos e o projeto ficou na gaveta, apenas trabalhado por algumas pessoas, como o Marcos Luz, atuando com grupos locais de turismo que desenvolveram em partes, mas ainda sem alcançar suficiente articulação, capaz de transformá-lo numa atração nacional e mundial, já que tem dimensões para isto.
O Roteiro está ainda no aguardo de quem veja, assuma e operacionalize a iniciativa: empresas, investidores, meios de comunicação e marketing, governos...
Tekoá - Como o senhor enxerga a realidade do roteiro hoje? O que seria necessário para colocá-lo em execução?
Della Giustina - Para colocar o Roteiro em execução, o que falta? O que está dito logo acima: falta quem abra os olhos para a oportunidade financeira, cultural, espiritual do Roteiro. Que entenda sua dimensão e importância e mova os fatores capazes de partir do projeto para sua plena execução, uma vez que, parcialmente, ele vem acontecendo. Por sua obviedade e pelo esforço de alguns que já abriram os olhos. Repito: empresas, investidores, comunicadores, governos, inclusive interesses locais, envolvendo estados e municípios.